segunda-feira, junho 27, 2005

OBEBÉNÃQUÉLILÀCOLA!!!

Era assim, com este grito, que o Diogo me atacava todas as quartas e sextas, dias em que vou para as aulas de inglês e o deixo na creche da escola. Com este grito e com um choro lancinante de uns decibéis bastante acima do nível razoável.

É claro que o meu coração ficava despedaçado! Quem não se lembra dos primeiros choros dos filhos aquando da entrada para a creche? São de arrasar até o mais duro dos corações! E eu nisso tive a experiência a dobrar, ou melhor, a triplicar! Eu explico melhor: é que o Diogo já tinha entrado para a creche, aí em Portugal, em Setembro do ano passado. Foi um processo assaz difícil: chorava sem parar nos primeiros dias, e não se calava até eu voltar! Foi de tal maneira que os esperados três dias de adaptação tiveram de se prolongar em uma semana (nisso o pessoal da creche foi bastante compreensivo). E mesmo assim, até ele parar de chorar quando eu o deixava, ainda passou bastante tempo!

Vai daí, em Dezembro viémos para cá, em Abril comecei as aulas... e recomeçou tudo outra vez!
Foram momentos bastante difíceis, às vezes só me apetecia chorar também... principalmente porque tudo isto coincidiu com o período em que também o David andava triste e sempre com saudades de Portugal, e as manhãs em que tinham os dois de ir para a escola eram mesmo travessias no deserto (salvo seja, um deserto molhado, que aqui a chuva cai com bastante frequência).

Às vezes, depois de deixar o David, agarrava no Diogo ao colo (enquanto ele chorava a sua lengalenga obebénãquélilàcola... obebénãquélilàcola...), apertava-o bem juntinho a mim, respirava fundo, fechava os olhos... e lá seguia em frente, no meio da chuva ou do vento, debaixo da dança das folhas das árvores que acompanhavam o nosso lamento...

A agravar tudo isto temos sempre os olhares de algumas pessoas, que mesmo tendo formação para desempenharem as funções de educadora ou de auxiliar, não percebem porque raio tanto chora a criancinha, ou então tentam aquele truque de nos mandar embora quando ele não está a ver... Que irritação! É que não suporto mesmo essas pessoas! Algumas até fazem a coisa com boa intenção, e se calhar não têm culpa nenhuma por a formação que têm não ser adequada!

Eu sempre fiz questão de me despedir dos meus filhos, mesmo que eles fiquem num pranto, principalmente quando eles estão nessa fase em que não me podem ver desaparecer. Qual é o problema de eles ficarem a chorar? Se choram é porque ficam tristes! E então? Acho que é preferível ficarem tristes mas saberem que me fui embora do que de repente aperceberem-se de que desapareci e nem sabem para onde! Acho que isto é tão óbvio, que francamente não consigo entender porque é que tantos adultos que conheço não o entendem. Mas mesmo para esses, pensem lá um bocadinho: se estivessem com alguém de quem gostassem, preferiam que essa pessoa se pirasse sem vos dizer nada, aproveitando um momento de distracção vosso, com a desculpa de que era para vos poupar as lágrimas?

Não ficavam com vontade de lhe dar um murro?

Bom, mas agora a canção já é outra. A saber, nas manhãs de segunda, terça e quinta feira (portanto os dias em que não há escola): mãe, o bebé vai à cola? Não, filho, hoje não há escola. Ooohhh! Obebéquélilàcola!

É verdade, o tempo passa, a confiança conquista-se, um passo depois do outro. O importante é estarmos sempre lá, com eles, em cada passo, em cada choro, em cada sorriso.

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