sexta-feira, julho 15, 2005

BRUXAS, MADRASTAS E FADAS MÁS

Os meus filhos adoram o Ruca. Desde que a avó lhes mandou dois DVD, que temos de gramar quase todos os dias com alguns episódios. De tal forma, que já sei aquilo quase de cor e salteado. Quem vibra mais com os bonecos é o Diogo, que, além de gostar de ver, exige também uma edição comentada: "Puquê o Ruca tá titi? Puquê o Ruca ficou com medo? Puquê o Ruca vai com a mãe? Puquê a Rojita vai dumili?", etc, etc...

Eu até acho os bonecos engraçados, e compreendo a preocupação pedagógica das estórias, mas, francamente, e falando cá do fundo, aquilo irrita-me solenemente, não há pachorra! É que já nem posso ouvir aquelas vozes, sempre sorridentes, sempre moderadas, sempre cantadas com alegria, sempre cor de rosa e às bolinhas e com muitas florzinhas! Até quando estão zangados (zangados? Não, assim um bocado mais aborrecidos) eles falam num tom suave e adequado! Caramba, e um par de gritos? E o caldo entornado? E a pachorra a ir pelo cano abaixo? E assim uma palmada de vez em quando, um murro na mesa, um palavrão?

(Bom, é melhor moderar-me, não me posso esquecer que estou num país onde dar uma palmada numa criança pode dar cadeia! É verdade, sim senhor!)

E o pudor? Meu Deus, até para dizerem que o Ruca teve de ir ali atrás das árvores mandar uma mija dizem que ele "teve de fazer uma paragem"! E quando o menino (que deve ter para aí uns 4 anos) vai à casa de banho no comboio o pai fica do lado de fora, e só se atreve a espreitar, de cabeça esticada! Mas que diabo, será que há algum problema em ir para a casa de banho com os miúdos?

E depois são todos tão simpáticos, tão bons, tão prestáveis e amáveis e gentis, nunca erram, nunca fazem merda, nunca metem água... Que diacho, quem é que aguenta tanta perfeição? Eu cá não!

(Eles aguentam, e adoram, e eu, claro, nunca me recuso a pôr mais uma vez o DVD no leitor, não, não sou dessas mães que têm de impingir aquilo que pensam, aliás, para o caso, o que eu penso não tem grande importância. Eles gostam, e acabou-se).

Mas que acho que faz ali falta uma bruxa, ou uma madrasta, assim daquelas más, terríveis, mesmo, isso faz. E maçãs envenenadas. E poções mágicas. E um dragão assustador a deitar chamas pela boca. E princesas adormecidas, e príncipes a cavalo, e monstros e companhia, e ogres verdes e asquerosos, e burros falantes, e lobos maus, e fadas boas e fadas más, e anjos e duendes e demónios. Porque a vida não é, nunca foi e nunca será sempre cor de rosa, e muito menos a infância. A infância é o lugar onde nascem os medos mais tenebrosos, onde vivemos as aventuras mais dramáticas, onde aprendemos a odiar ao mesmo tempo que aprendemos a amar. E muitas vezes os nossos filhos olham-nos como se fossemos bruxas, ou madrastas horríveis, tal é o ódio que sentem, que até desejam que a gente morra no fundo de um penhasco escuro. E sentem-se órfãos, quando se sentem completamente incompreendidos pelos pais, que são as pessoas que mais amam no mundo. Porque é que havemos de ter sempre tanto medo da tristeza, do choro, da zanga, da raiva, do ódio? A tal ponto de termos de o banir do universo infantil? Como se a infância fosse um mar de rosas?

3 comentários:

Anónimo disse...

AHHAHHAHH
... ok, ok, convenceste-me vou fazer uma busca intensiva cybernautica dos muppetshow, a ver se encontro as pérolas depois monto-me num cavalo branco e com dvd em punho, tal qual principa encantada salvo-te desse tormento!!! achas que galinhas e pinguins a voar por um estudio suficiente!!! não estão sempre moderados akeles...

papu disse...

Querida, o teu comentário estava-me aqui a distorcer a estética bloguiana, por isso copiei-o e apaguei o outro, e pus esse, igual ao original, mas com uma gargalhada mais pequena, que é para não estragar o visual. Vá lá não te zangues...

Diogo disse...

Mais 2 defeitos major do Ruca (Fuca, segundo a minha filha Mariana que pede o DVD desde q se levanta até q se deita): fala à Porto (sotaque cerradíssimo) e, bastante mais grave, é um mimado sem descrição. E os paizinhos fazem-lhe TODAS as vontades à mínima birra. Bj. Diogo C