domingo, setembro 18, 2005

A PROPÓSITO DA TRAIÇÃO

Aqui há uns tempos largos vi um programa de televisão aí em Portugal, do qual não me recordo o nome, em que umas quatro ou cinco mulheres jovens, bonitas e famosas eram entrevistadas, e a dada altura a conversa ia parar ao tema controverso da traição e fidelidade. Uma delas dizia, e as outras aprovavam, que não se importava que o companheiro lhe fosse infiel, desde este não tivesse o despudor de lho confessar. Achava ela que, caso ele não resistisse a uma violenta atracção física ou a uma súbita e incontrolável descarga de hormonas, era preferível que sucumbisse ao desejo avassalador e passageiro, e arrumar o assunto, do que resistir ao impulso e ficar a pensar na outra pessoa quando estivesse com ela (namorada). Mas, claro, que ele fosse sábio o suficiente para não lhe contar nada, porque caso tomasse conhecimento do caso, achava que não reagiria muito bem. Pode dizer-se que aqui o provérbio ganha força, longe da vista, longe do coração.

Eu acho que estas coisas das traições e das fidelidades são assuntos muito privados e cada um deve ser fiel àquilo que sente. Por isso vou apenas restringir-me à minha opinião pessoal acerca do caso. Eu acho que atracções físicas e descargas hormonais acontecem a toda a gente, a toda a hora, basta irmos na rua e termos os olhos abertos e os sentidos despertos. Quando vamos na rua passam por nós uma infinidade de gajos bons e gajas boas, que nos fazem saltar mais ou menos as hormonas. Mas não vamos a correr enfiar-nos com ele ou ela na cama. Nos nossos relacionamentos pessoais e profissionais também pode acontecer que contactemos com alguém que nos toca nalgum nervo sensível, ou que achamos particularmente atraente, e que mais uma vez nos põe as hormonas em mais ou menos alvoroço. Mas, se temos uma relação com alguém importante para nós, conseguimos controlar perfeitamente a situação, principalmente se não passar disso mesmo, uma simples atracção física ou um pico de hormonas. Aliás, deixar que as hormonas estraguem uma relação duradoura e importante é um sinal redondo de estupidez. Não, decididamente não serão só as hormonas nem as atracções físicas que fazem com que uma pessoa parta para a infidelidade.

A mim o que me parece é que as pessoas não dão largas à fantasia, e por isso precisam de passar ao acto, ou seja, ser infiel. Pois não dizia a moça que preferia que o namorado fosse para a cama com a outra e não pensasse mais no assunto do que vir para o pé dela, a namorada, com a cabeça na outra? Pois olhem, eu cá digo o contrário: eu prefiro que o meu marido esteja comigo a pensar no par de mamas com quem se cruzou ontem na rua em vez de ir para a cama com o par de mamas! Qual é o problema de ficar a pensar num par de mamas, ou numa cara, ou nuns olhos, ou nuns braços, ou num tronco, ou nuns músculos, ou numas pernas que nos dispararam a fantasia? Isso não acontece com toda a gente? No post aterior escrevi que a fantasia é o reino onde se pode fazer tudo e ser tudo aquilo que não nos atrevemos na realidade, e isto vinha a propósito das brincadeiras das crianças, mas para aqui também serve. Na fantasia podemos ser tudo o que ousamos e fazer tudo o que não ousamos. Como dizem os brasileiros, podemos trepar com homem, mulher, criança, cachorro, gato, garrafa, avião, pico do Everest... (:D) Na fantasia não há perversão, aliás, a perversão resulta precisamente da impossibilidade de experimentar o prazer pela fantasia, restringindo-o ao acto em si. O perverso só consegue vir-se através da concretização da fantasia, e por isso ele é prisioneiro da funcionalidade do acto. Isto não é nenhum juízo de valor, tenho o maior respeito pelas perversões de cada um, desde que não interfiram com a dignidade e a liberdade de terceiros!

Todos nós temos total liberdade de imaginar e fantasiar. Todos nós temos fantasias e desejos secretos que não partilhamos com ninguém. Todos nós tecemos fantasias que sabemos que nunca se irão concretizar. A nossa fantasia é a nossa intimidade, o nosso mundo privado, o nosso quarto secreto, o nosso tapete voador que nos pode levar para mundos mágicos e distantes, o nosso poço de desejos inconfessados. No nosso imaginário sensual cabem também todas as sensações que o rabo do vizinho ou as coxas da empregada ou os olhos da secretária ou a boca do homem do talho nos despertam, e isso não abafa as sensações que o corpo real do nosso amado ou da nossa amada nos provocam, porque sabemos muito bem e sentimo-lo na pele que é aquele corpo e aquela pessoa que elegemos entre todas, porque é aquele ou aquela que amamos, uma pessoa completa, e não as suas mamas ou o seu rabo ou as suas pernas. Partes do corpo só despertam fantasias, nunca paixões.

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