domingo, novembro 06, 2005

O TOQUE

Investigações recentes chegaram à conclusão de que os bebés já choram no útero, li eu na Pais & Filhos deste mês! "A descoberta foi feita por investigadores da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, e publicada no Archives of Disease in Childhood: Fetal and Neonatal Edition. (...) Foi após estimulação acústica que os fetos, observados através de ultra-som, fizeram movimentos respiratórios e faciais similares aos que fazem os bebés quando choram, além de emitirem sons durante 15 a 20 segundos. (...) os sons percebidos assemelham-se ao choro de uma criança." (Pais & Filhos Novembro 2005)

Que os fetos se podiam deprimir no útero, já tinhamos conhecimento, como revelam trabalhos interessantíssimos de Eduardo Sá, Psicólogo, nesta área. Mas que podiam chorar é de facto surpreendente.

A nossa ideia sobre os recém nascidos,os bebés e as suas necessidades mudou substancialmente nos últimos anos, graças a investigações como esta que nos trazem luz sobre coisas cada vez mais importantes. Há uns anos atrás pensava-se que os recém nascidos não viam, ouviam mal, e que não se apercebiam do que se passava à sua volta. Hoje sabe-se que esta ideia é completamente errada. Os recém nascidos com apenas dias já distinguem o cheiro do leite da mãe do de outra mulher. Já ouvem e reagem a estímulos luminosos dentro do útero. À nascença, a sua visão não é tão perfeita quanto a audição, mas se os objectos foram colocados a uma certa distância dos seus olhos, ele consegue percepcioná-los com clareza. E o estímulo visual que mais reacções provoca nos recém nascidos é o rosto humano, assim como a voz humana, especialmente a da mãe, é a "música" que mais prazer parece proporcionar aos seus ouvidos.

Outra ideia errada que infelizmente ainda está muito presente no senso comum é a de que não se deve pegar nos bebés ao colo "em demasia", pois isso pode habituá-los mal. Quando me questionavam sobre isto nas acções de formação que dei, dizia sempre qualquer coisa como isto: "habituá-los mal é habituá-los ao calor humano, à presença carinhosa de alguém, à ternura dos nossos braços, à certeza de que estamos ali sempre que ele chora e precisa de nós? Se sim, então estamos a habituá-los mal, e ainda bem!"

Já ouvi esta frase montes de vezes: "Ele sabe muito, já tem muita manha! Chora, chora, chora, e se lhe pego ao colo cala-se logo!" Mas é óbvio, não percebo porque é que as pessoas acham isto manha. Aliás, percebo: é que o choro está muito conotado à falta de algo, quando os bebés choram as pessoas acham que só pode ser fome, ou frio, ou dor, e se não é nada destas coisas ficam logo à nora, sem perceber. Mas a necessidade de ser pego ao colo, a necessidade de contacto humano, de toque, de ser aconchegado é tão verdadeira e tão importante (se calhar até mais importante) como ser alimentado ou protegido do frio. Os bebés precisam de ser tocados como de ser alimentados. E isto é tão fundamental para a sua sobrevivência como o alimento. Pode dizer-se que é o alimento da alma.

Quanto ao ficarem mal habituados, é completamente errado e as evidências demonstram-no. Chegou há pouco tempo ao nosso país um hábito importado de outros países vizinhos da Europa (que por sua vez o importaram de práticas antigas e ainda actuais de países mais longínquos e mais pobres, mas se calhar mais sábios nestas coisas) que é o transporte dos bebés com um pano, junto ao corpo da mãe. A mãe pode ter o bebé recém nascido sempre colado a si enquanto faz outras coisas, pois o pano permite ter as mãos livres para se ocupar de outras tarefas. O bebé dorme (ou não) junto ao corpo da mãe e ao seu calor. As evidências (e investigações na área também) sugerem que estes bebés são em média mais calmos que os outros: não choram tanto e dormem melhor. E outra coisa muito importante: a relação entre a mãe e o bebé fica bastante fortalecida.

Os bebés precisam de contacto e interacção permanente com os adultos importantes na sua vida (a maioria das vezes, os pais). É claro que isto requer muito esforço da nossa parte, mas é assim. E uma das muitas maneiras de eles exprimirem isso é precisamente o choro. Não devemos ignorar o choro do nosso bebé recém nascido. Ele manifesta sempre alguma necessidade, e devemos responder tão prontamente quanto a realidade nos permite. A vida diária já traz por si muitos pequenos focos de frustração (não podemos ir sempre a correr acudir ao choro do nosso bebé, como sabemos pela experiência) portanto não precisamos de introduzir ainda mais frustração. E às vezes o que eles precisam é tão somente de ser agarrados, de sentir o nosso calor e o nosso contacto, de ver o nosso rosto e brincar com o nosso sorriso. E esta necessidade é vital para eles (pois não passaram nove meses abraçados dentro da nossa barriga, envolvidos e misturados no nosso calor?), e não os vai habituar mal, mas bem: vão ficar habituados àquilo que realmente interessa nesta vida, que é o afecto, a ternura, o amor, a confiança, a presença tranquilizadora, o consolo, o conforto, o calor e a empatia humanos. E são coisas tão simples como esta que vão dar força à sua futura personalidade, que vão ser os alicerces da sua futura casa.

E se isto são maus hábitos, que venham os maus hábitos e que sejamos todos muito mal habituados. Desde o berço, neste caso o segundo, porque no primeiro, o útero, já estamos mergulhados na água misteriosa das emoções mais primitivas.

2 comentários:

Pim disse...

Só uma palavra: obrigado!!! De facto, já andava cansado de tanta gente à minha volta a (quase...) berrar: «Ah, e não pegues logo nela; É só manha e, depois, queres habituá-la a não estar ao colo e não consegues; deixa-a chorar, vais ver que passa; ah, deve ser fome; ah, deve ser frio; ah, deve ser cólica!»
Ah, pois, mas de facto, como bem referes, ninguém diz: «ah, deve ser falta de carinho ou de, simplesmente, colinho.»
Felizmente, tanto eu como a minha menina, a carlita, estamos a borrifar-nos para isso e, quando vemos que é colo que a maria rita quer, é colo que lhe damos. Claro! Era só que faltava, ficar a vê-la chorar. Pois, para os outros deve ser fácil dizer isso. Para mim, não é. Nem nunca será! Siga
:) beijokas grandes

papu disse...

Eu costumo dizer, só há uma coisa na vida que não deve ser pesada nem medida: o carinho, o amor, o colo, os mimos, a ternura, o contacto pele a pele! (eh pá, não é só 1 coisa, afinal, são várias! ;) Na minha opinião, as crianças mimadas são aquelas que não tiveram mimos na dose suficiente - e ficaram carentes, sempre a necessitar de atenção e de mais e mais provas de amor - e nunca ficam satisfeitas...

Mimem-na, peguem-lhe ao colo sempre que vos apetecer e lhe apetecer a ela, emcham-na de beijos e de carinho, façam-na sentir-se única e especial e vão ver que mais tarde se vão sentir compensados! Ela será uma grande Mulher!