Acordei por volta das 9 com a vozinha do Diogo
«Mãe, eu vou fajêl xixi...»
Abri um olho e respondi
«vai lá, filho, vai lá...»
Voltei a fechá-lo.
Fiquei a ouvi-los acordarem e descerem lá para baixo. Com um ouvido à escuta, a ver se não ouvia nada de anormal.
Às dez e meia lá vim para baixo. Ainda a dormir em pé. Dei-lhes o pequeno almoço e fiquei na mesa a preguiçar. Depois fui tomar banho e desci de aspirador em punho.
«Vá, agora a mãe vai aspirar, vão lá para cima»
Tinha jurado que acabava de arrumar a casa este fim de semana.
Às tantas, entre desviar sofás e aspirar os cantos, olho para o chão e vejo uns tufos de pêlos.
«São pêlos de rato», pensei, e senti o desespero a crescer.
Olhei para o lado e vi mais pêlos iguais, em muito maior quantidade, pretos, pretinhos, e uma tesoura caída ao lado.
Não eram pêlos de rato. Eram cabelos. Cabelos assim, daquela cor, cá em casa, só podiam ser do David.
«David, anda cá abaixo!»
O rapaz ficou envergonhado. Disse que não sabia porque tinha feito aquilo. Não tirava os olhos do chão.
«Ó filho, diz lá, a mãe nem está zangada!»
Mas ele continuava constrangido. O cabelo dele no alto da cabeça estava todo desencontrado. Suspirei. Ainda bem que ainda não aspirei a casa de banho.
Subi, fui buscar uma cadeira ao quarto deles e pu-la no chão da casa de banho. Tirei os tapetes e pus o caixote e o bacio dentro da banheira.
«Anda, temos de cortar esse cabelo.»
Bom. Ele portou-se muito bem, quase nunca se mexeu e aguentou não sei quanto tempo ali quieto, enquanto eu tentava acertar aquelas gadelhas. Não ficou nenhuma obra de arte, mas também não ficou muito mau... espero! :P
Depois foi meter o rapaz no banho, apanhar os cabelos com o aspirador (havia cabelos em todo o lado, menos no tecto). E aproveitando a embalagem, dei também banho ao Diogo, apesar dos seus protestos e do choro que se seguiu quando percebeu que não ia a lado nenhum com aquela cara de mau a dizer:
«Eu não quélo tomál banho!!!»
Finalmente, fomos almoçar... às quatro da tarde!
Seguiu-se nova onda de protestos:
«Eu quia xopa xem nada!»
«Eu quia que tu dáxes-me a xopa!»
Depois de alguma gritaria, zanga, abraços e choros, ele lá foi comendo, enquanto eu lhe dava algumas colheradas e ia comendo ao mesmo tempo.
Entretanto a tarde já se deita, preguiçosa, e a luz começa a ficar mais turva e densa, à medida que as nuvens descem e engolem de cinzento os telhados e as chaminés das casas.
O melhor mesmo é não olhar para o relógio. Deixar o tempo correr, sem pressas, e ir andando, olha, deixar andar.
3 comentários:
Um domingo atribulado! Bjs.
música nova!
Boa semana por aí,
bjs
A verdadeira e possível filosofia da felicidade doméstica - olha, deixar andar!
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