«Ó mãe, porque é que aqui há sacos de plástico nas árvores?»
Quando ouvi esta pergunta pela primeira vez, sorri para dentro, a pensar nalgum devaneio assim meio esquisito da criança. Mas depois encarei-me, confundida, pela estranheza de enfim concretizar em palavras algo que já a mim me fizera espantar para dentro, embora na altura não tivesse dado muita importância ao caso, ocupada que estava a minha mente com outros sobressaltos próprios de quem chega a um lugar estranho em aterragem súbita e um pouco desconfortável.
Homessa, era verdade.
Os sacos de plástico lá estavam (e estão) pendurados em algumas árvores, sempre em ramos onde a mão terrena de alguém com os pés colados ao chão não alcança. A abanar com o vento, derrotados pela chuva, bocados de plástico tristes e patéticos na tentativa vã de ascenderem às alturas dos mistérios da matéria viva (ou, quem sabe se a tentativa é a de ascender às alturas brancas das nuvens, desfazerem-se do peso da matéria, e afinal são as árvores e os seus ramos de sabedoria milenar que os prendem na sua quietude de alma com raízes fundas na terra, e lhes impedem o voo com a gravidade e a profundidade das verdades terrenas).
Podemos conjecturar algumas hipóteses explicativas para o facto. Ou o vento os levou para ali por artes mágicas da fúria da ventania, dotando-os de vontade própria, sucumbindo quiçá ao seu desejo mudo de conquistar o reino vegetal e ganhar um lugar entre as almas verdes da clorofila (e como os há em abundância espalhados pelo chão e nos raros caixotes do lixo, esta hipótese é bastante provável), ou então temos algum louco por aqui que se entretém a pendurar sacos em série nas árvores. Mas era preciso serem muitos e muito loucos.
A razão permanece um mistério, mas que os há, há.
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