Amor e dor

Só em português é que amor rima com dor.
Será?
Esta música deixa-me na boca um sabor a mar. Um sabor salgado.
De outra boca?
A boca dos búzios. Do vento nos ouvidos e um arrepio na pele.
Como quando ficamos na praia até a luz ser engolida pelas estrelas e o negro da noite nos envolve nos seus braços poderosos e frios.
Esta música é uma velha companheira.
Ouvia-a na escuridão do meu quarto e sonhava com uns olhos desconhecidos onde pudesse mergulhar e deixar o meu corpo despido no chão, como um vestido de seda transparente a tecer pérolas por entre a luz das persianas.
Mergulhar de alma nua.
E a água daquele mar não doía, apenas desenhava pequenos dedos de sal na minha pele. Pequenos dedos e pequenos lábios de sal a arder na minha pele.
A arder de frio.
Como a dor do amor, que no fundo não dói.
Uma dor mansa.
Uma dor que afinal é uma carícia.