terça-feira, janeiro 27, 2009

Na piscina 4

Hoje a luz boiava alegremente na água, numa dança ondulante e viva de compridas serpentes luminosas. O azul entranhava-se-me na pele e nos ouvidos. Às vezes acho que viveria melhor e mais feliz debaixo de água. O abraço da água aconchega-me e conforta-me. Debaixo de água os ombros não me pesam, e as angústias escapam-se juntamente com as bolhas de ar. Depois, quando saio da água, o corpo pesa toneladas. Arrasto-me até ao duche como se pairasse no espaço. É que a minha alma ficou, subitamente, mais leve. Hoje lembrei-me de entrar naquela porta junto dos duches, de onde costumava ver as pessoas sair, sem perceber o que se passaria lá dentro. Alguma sala de convívio? Abri a portinhola e uma onda de calor saltou-me às bochechas. Um calor pegajoso e transpirado. Depois olhei melhor e vi umas quantas pessoas sentadas em estrados de madeira, como na geral de um espectáculo. Por um momento pareceram-me bacalhaus expostos numa banca. Contive uma gargalhada e entrei, sentando-me num dos espaços vagos, ao lado da minha amiga. Ambas olhávamos uma para a outra e ríamos para dentro. O espaço era minúsculo, e parecia que todas aquelas pessoas formavam uma multidão. Uma multidão suada. Estávamos todos demasiado perto, como nos autocarros cheios. Tive a ligeira sensação de que voltara para dentro de água, dado que o calor me envolvia agora como há pouco o abraço da água. Porém, rapidamente quis sair dali. Não gosto de estar tão perto de pessoas que não conheço. A proximidade física de corpos estranhos incomoda-me, ainda para mais quase nus. Havia cá fora um aviso: please keep your swimmer on. Sim, porque com tanta transpiração no ar, nunca se sabe o que passa pela cabeça das pessoas. O cheiro húmido a madeira também não ajuda. E aquele desconforto de não sabermos onde pousar os olhos. No meio da obscuridade, porém, os olhos perdem-se e deixam de existir. Aliás, nem damos pelos rostos. São os corpos, mais uma vez. Os corpos ali sentados, como bacalhaus secos, expostos, alinhados.

1 comentário:

Edelweiss disse...

É horrível, concordo absolutamente!