Ela não. Não via, não ouvia, não sentia nada. A cabeça quieta, muda, surda, cega, morta. Era como se morresse para acordar de novo. E, claro, não recordava nada daqueles poucos minutos, daqueles poucos nadas.
Era assim a sua vida, uma paisagem sucessiva de pequenos nadas de que não se conseguia lembrar. Um corredor interminável de esquecimentos.
O médico dizia que era amnésia focal e que era irreversível. Mas ela, ela nunca se lembrava do nome. Ficava com ele debaixo da língua quando queria contar para as amigas. Às vezes trocava as palavras e acabava dizendo que sofria de falésia bucal. Um nome que dava para imaginar perversões e despertava gargalhadas histéricas na mulherada.
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