sábado, junho 12, 2010

Medo

Os miúdos gritam por cima da minha cabeça. Ouço-lhes as gargalhadas e os pés batendo no tecto. A casa abana. Os vidros das janelas tremem. Temo que se partam com os saltos deles no quarto, por cima de mim. Temo que a casa caia no impacto da sua força, ainda ciança e já tão quase adolescente. O mais novo grita. Correm. Brincam. Riem. E eu à espera da derrocada.

Não, não é medo que a casa caia. É medo de que, por dentro, a casa esteja minada.
Não se pode viver com o medo atravessado na garganta.
Há que olhá-lo. Desmontá-lo. Soltá-lo.

Sinto-o na garganta, uma garra, uma coisa física, um catarro permanente que quase não me deixa respirar.
Sinto a dor na garganta quando as palavras são tão agudas que ferem ao atravessá-la, e então tenho de engoli-las, metê-las para dentro, silenciá-las. Pesa, este silêncio; dói esta garganta escalavrada.

O nó não se desfaz, antes pelo contrário. Cada vez mais difícil de desembaraçar, o novelo.
As palavras não deixam de cortar. Apenas não passam na garganta.
Ficam dentro do corpo, transformado em buraco negro.

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