quinta-feira, fevereiro 17, 2011
Lágrimas
As lágrimas custam. Ardem. Ferem. Ainda há o medo. E a vergonha. Engole-as, mesmo sem querer. Contudo, enrolada num cobertor, é muito mais fácil soltá-las. Talvez precisemos de nos sentir abraçados para podermos chorar, pensava. Mas que era verdade, era; até parecia magia. Assim que se embrulhava no cobertor lá se abria a torneira. Devagarinho, pensava. Às pinguinhas. Vai demorar tempo, ela sabe; vai ser lento esse choro. O desembrulhar dessa mágoa. Não é isso que interessa; não é o fim da viagem, mas sim o caminho. Os passos, um depois do outro. Por agora, debaixo do cobertor, essas lágrimas vão ser um afago. É só isso que quer. Poder chorá-las. Poder sentir-lhes o sabor a sal. Poder torná-las num rio de águas tranquilas. Só chora quem traz dentro de si o rio navegável da tristeza.
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