segunda-feira, março 28, 2011
Palavras encravadas
As manhãs de segunda feira são uma saga. Dar em doida com a mudança da hora. Dar em doida porque o miúdo não se despacha. Não sabe o que é despachar-se; por mais que ela grite, ele faz sempre tudo com o mesmo ritmo, que é muito lento. Dar em doida porque se não for ela a lembrar-se de lhe dizer para trazer a mala da escola para baixo, ele esquece-se. E já estão atrasados. E depois, os bolos que ontem fizeram para ele levar para a escola, ficarão em cima da mesa da cozinha,se não for ela a metê-los dentro de um saco de plástico, juntamente com a receita que ele escreveu e imprimiu no computador. Devia mas é deixá-los onde estão e não me ralar, pensa, para ele aprender que tem de ser responsável e lembrar-se das coisas, e sofrer as consequências de tal não acontecer; mas não tem coragem. Devia ter, mas não tem. Antevê o choro sentido, perante o esquecimento de algo que planeou com tanto entusiasmo, e não tem coragem de deixá-lo viver esse desgosto. Mas devia, caramba! Até quando vou ter esta mania de amparar-lhe as quedas? Enfim. De volta a casa, faz a lista das compras. Dá novamente em doida porque não se lembra do que precisa de comprar. É sempre assim: faz listas para não se esquecer do que precisa, já que assim que entra no supermercado tal se lhe varre completamente da memória, e na hora de fazer a lista acontece-lhe o mesmo, não se lembra de nada. Abre o frigorífico e os armários enquanto pragueja baixinho. Sabe que depois das compras tem de fazer comida, e que devia aproveitar para mudar a roupa da cama, aspirar o andar de cima e limpar a casa de banho, mas só lhe apetece olhar para ontem, ou mergulhar num livro, ou escrever até lhe doerem as pontas dos dedos. Sente na garganta o mundo de coisas que queria dizer, mas não diz. E a garganta lateja, por causa dos pólens no ar; mas se calhar são as palavras encravadas.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Vamos lá ver, Papu.
Tudo isso faz sentido se for uma família monoparental, ou não será?
Então, se não o for, onde estão a divisão de tarefas? os deveres e obrigações de todos?
Eu entendo que é só uma reflexão, mas não podia deixar de contrapor esta realidade!!!
Já agora, com lista ou sem lista, faltarão sempre coisas e hão-de comprar-se, SEMPRE, coisas que, afinal já possuíamos!
Poi zé, poi zé :P
bj
Grita! Quando ficares só e com o aspirador ligado. bjs
Aurita
Eu de manhã vivo cenas do mesmo tipo de drama que dão para dar e vender...
Beijos.
Doido! Estás mais presente do que imaginas. Sempre :)
Mãe e filhos
Enviar um comentário