O teatro estava cheio de pais, mães, avós, avôs, irmãos, irmãs, tias, tios, primas, primos e alguns amigos, suponho. Muitas caras e olhos brilhantes. No palco, as crianças cantavam, dançavam, diziam as deixas e eram os olhos, só os olhos. Cantavam e por momentos deixavam de ser meninos e meninas e passavam a ser apenas pessoas, e nos olhos ela conseguia vislumbrar essas almas do futuro mas que já ali estavam. Nos olhos do filho reconheceu a criança e também viu aquela outra pessoa que ainda não conhece mas está lá, presente num futuro embrulhado em retalhos do passado. As vozes das crianças eram uma só e eram mais, eram tantas, e a ela a garganta não arde, só queima, e os olhos molham-se e a emoção quase que aflora as lágrimas. No palco os miúdos prestam culto à música e dizem piadas que fazem rir e por momentos está tudo ali em cima do palco, a vida inteira, a terra inteira, o planeta, o futuro, a escravidão do pensamento, a libertação, o sonho, e a música, claro. E depois pensa que isto é que devia ser o produto final de uma aprendizagem. E depois fica a pensar que um dia estes momentos serão história. Um dia. Uma história. A sua e a deles.
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