terça-feira, maio 21, 2013
Espelhos mágicos
Lembro-me de ser pequenina e ficar assombrada com a imensa multidão que me fitava do lado de lá dos espelhos mágicos, no quartinho de provas da loja do meu avô. Tudo me fascinava ali, desde as estantes até ao tecto carregadas de tecidos de cores lindas, às gavetas e gavetinhas recheadas de pequenos tesouros – agulhas, dedais, carrinhos de linha, de tantas cores (nem eu sabia que existiam assim tantas cores). O corredor escuro, interminável – que afinal é tão pouco profundo – atafulhado de peças de roupa penduradas em cabides, distribuídos ao longo de compridos varões, onde adorava esconder-me – e depois havia um recanto atrás de umas cortinas, uma espécie de vão onde se empilhavam caixas e mais caixas cheias de maravilhas. Hoje vejo que são apenas caixas de sapatos.
Os espelhos mágicos encontram-se em paredes opostas, virados um para o outro, exactamente na mesma posição, e é esse pormenor que cria a ilusão de óptica – uma fila interminável de imagens iguais, prolongando-se até ao infinito. Cem, mil, um milhão, uma infinidade de eus que me ofuscavam a razão.
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