Lisboa estava bonita. O sol reflectido no vidro dos edifícios e nos olhos de quem passava. Jantei e almocei com amigos, fui ao cinema. O tempo é sempre pouco.
No táxi para o aeroporto, despedi-me da cidade e do calor. Das sandálias, dos pés magoados, das camisolas de verão e nenhum casaco. Na hora do regresso é quando sentimos como o tempo voa. E depois, em cima das nuvens, o mundo queda-se, quieto, distante, miniatural, e quem voa somos nós.
A senhora do check in olhou para o meu passaporte e soltou uma exclamação de surpresa. Ainda ontem estive com o seu livro na mão! Mais meia dúzia de palavras onde se misturaram sorrisos e parabéns. Eu não estou habituada a coisas destas. Depois no autocarro, outra senhora, as duas agarradas ao mesmo varão, e ela a segredar-me ao ouvido. É a Gabriela, não é? De novo os parabéns, e de como gostou do livro, e tanta coisa e tão pouca que se pode dizer em poucas e muitas palavras, e como isso pode fazer com que, de súbito, o nosso dia fique com outras cores.
Lá de cima, por entre as nuvens, percebemos como o nosso mundo é pequenino, e como a simples matéria que é a água, se pode transfigurar em névoa, campos de algodão, brancas paisagens do paraíso, e deixar o nosso mundinho oculto na vastidão do nevoeiro. Invisível a olho nu.
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