Eu sou nova nestas lides, e por essa razão às vezes sinto-me um pouco inibida em expressar a minha opinião. A sensação que tenho é a de quem entra numa sala cheia de gente, dividida em pequenos grupos que conversam entre si, uns a falar mal dos outros, outros em amena cavaqueira; uns em animado diálogo, outros monologando, convencidos que dialogam; uns a olhar para o lado, outros a olhar para o umbigo, e alguns (poucos) a olhar os olhos do seu interlocutor. Bom, e no meio desta confusão não sei o que fazer, sento-me num canto e fico a observar, prefiro ficar calada quando não tenho nada para dizer.
A verdade é que ando aqui na minha vida de todos os dias, quase não leio jornais portugueses, a maioria das coisas que me chegam ainda é através do facebook, e, confesso, não tenho tempo nem pachorra para certos maldizeres sem fundamento. Mas de vez em quando lá se esbarra com a coisa e ultimamente estes encontros imediatos têm-me deixado a pensar e a falar comigo própria, numa tentativa de gerir alguma perplexidade.
Quando li a opinião do Nuno, o meu brainstorm interno ganhou novo alento. Afinal, não era só eu a indignar-me. O Nuno foi capaz de pôr em palavras as minhas próprias ruminações sobre o assunto. E mais. Eu não conheço o Nuno, mas pelo que me é dado ver, é uma pessoa sem pretensões e com alguma dose de humildade: ganhou o prémio Leya com um livro excelente; repito: excelente, e aquilo que lhe apraz dizer é que reconhece que não escreveu um livro perfeito. Quem escreve está normalmente familiarizado com o exercício de constante tentativa de melhoramento, e como tal sabe que a perfeição não existe; a questão não é essa: todos, uns mais do que outros, somos capazes de auto-crítica, mas dizê-lo assim, em voz alta, não é para todos.
O mais importante do prémio Leya, para quem o ganha, não é o dinheiro: é a escolha do júri. É o facto de aquele grupo de pessoas distinguir o nosso livro no meio de 5, 7, ou 10, e as razões para tal não passarem pela nossa idade, género, cor dos olhos, a família onde nascemos, a posição social que ocupamos, ou o facto de já sermos ou não um escritor de renome, e sim, e tão só, a qualidade da obra a concurso. E isso, já ninguém nos tira, digam o que disserem. Os membros do júri são pessoas de elevado mérito dentro do mundo da literatura, merecedoras de toda a credibilidade e excelência em matéria de apreciação e crítica literária. Não faz sentido nenhum que se dediquem a premiar livros de baixa qualidade, ou mesmo mediana. Não faz sentido, e, quanto a mim, é de extrema presunção e mau gosto sugeri-lo. Mas quem sou eu, não é verdade?
6 comentários:
Quem sou eu? Ora uma vencedora! Os cães ladram e a caravana passa, é preciso criar um intervalo entre nós e o Mundo. Força!
Claro que sim :) o que eu quero dizer é que a minha opinião não vale mais do que qualquer outra... É apenas a minha, e cada um tem direito à sua. Obrigada!
Quando é texto comparado com texto, é o conceito de qualidade do júri que prevalece. Não é o nome, a idade, o "pedigree", ou a rede de influência do autor que é valorizado
Por isso mesmo é que o prémio tem a importância que tem. E pela mesma razão, quem sabe, provoca tanta celeuma...
Tal como no primeiro comentário, me ocorre dizer-te, segue na caravana. Deixa quem só sabe à volta, fazer sempre a mesma coisa. É, foi e será sempre assim.
O que me cativa no prémio Leya é precisamente o facto de o júri não saber quem é o autor, de tomar uma decisão livre de quaisquer outros atributos que não o texto que tem à frente.
Infelizmente, esta é uma das poucas oportunidades para os escritores ainda não conhecidos do grande público.
Goste-se ou não de um livro premiado, porque cada um tem direito à sua opinião, não há qualquer fundamento em pôr em causa os jurados de prémios deste tipo.
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